Diário de bordo

 

Logo no primeiro horário da manhã, fui ao Consulado Geral do Brasil, em Miami, para acompanhar meu filho mais velho em uma das suas obrigações como cidadão brasileiro: o alistamento militar. Geralmente, é a Luciana quem toca essas tarefas administrativas e eu fico com as mais comerciais, mas aproveitei esta, especificamente, para ter esse tempo com o Brenno, porque estamos num intensivo, trabalhando juntos num planejamento para os próximos dois anos. O Brenno é do tipo que, apesar dos 18, acha que tem pouco tempo, porém muitos sonhos.

A viagem de Orlando para Miami é rápida. Geralmente, faço de carro e leva três horas e meia. Para conversar é excelente e a estrada é uma beleza. No entanto, como precisava estar de volta
no meio da tarde, usei o meu WhatsApp para pedir ao Pete, que cuida das minhas viagens há oito anos, para preparar o avião para nós. Em menos de três minutos, com menos de um parágrafo
escrito, tudo já estava pronto. Considere que, há pouco tempo, dois jovens empreendedores que trabalhavam no Yahoo, também lutando por seus sonhos, criaram esta solução de mensagens que
tanto nos ajuda todos os dias.

Chegando a Miami, pedi um Uber. Uma BMW Série 5 nos buscou pontualmente para nos levar ao Consulado. Entramos no carro. Bom dia, bom dia… tudo bem limpo e organizado. Depois que nos acomodamos, perguntei ao motorista como estava o trânsito até o nosso destino. Ele não respondeu. Perguntei novamente, falando mais alto, e ele ignorou a minha pergunta. Então, eu
me aproximei dele, tocando em seu ombro. Ele olhou para mim e fez um sinal… bem, percebi: ele era surdo. Dei um sorriso e pensei comigo mesmo, ao contemplar o que estava acontecendo: um
motorista negro e surdo, trabalhando por conta própria. Faturou 60 dólares em pouco mais de meia hora e deve terminar o dia com uns 300 dólares no bolso.

Este é o capitalismo opressor trabalhando em favor da inclusão social, gerando renda, impostos e, ainda, facilitando a vida de milhões de clientes. Tudo isso, sem qualquer interferência estatal e
burocrática. Vale lembrar que, há poucos anos, jovens em busca de seus sonhos criaram esse serviço que tomou o mundo e, sem ter um carro próprio sequer em sua frota, já vale mais do que
a Ford.

Chegando no Consulado, já estava preparado para levar umas três horas na função burocrática. Primeiro, não me lembrava, mas o Consulado havia mudado de endereço. Instalações impecáveis,
com tecnologia e o principal: agentes consulares extremamente simpáticos, dispostos e de altíssimo nível.

Mas algo inusitado aconteceu. Faltou uma cópia da certidão de nascimento do Brenno, então, enquanto ele já estava sendo atendido, fui fazer a cópia numa copiadora que ficava no final do
corredor. Ao chegar na máquina, o autosserviço custava 25 centavos por cópia. Precisava de duas cópias e custaria 50 centavos. Ops! Não costumo andar com dinheiro, mas vasculhei minha
mochila e encontrei uma valiosíssima nota de 10 dólares. Não me lembro de ficar tão feliz em encontrar dinheiro perdido numa mochila desde a época em que procurava moedas perdidas na
mochila da escola para pagar a passagem de ônibus.

Na hora de introduzir os 10 dólares na máquina, ela só aceitava notas de um dólar. Opa! Tinha que trocar o dinheiro… Enquanto isso, o atendimento do Brenno já estava rolando e eu precisava
correr. Ao pensar numa solução, uma mulher que estava com dois filhos me abordou e perguntou: “Você é o Flávio Augusto?” Respondi: “Sim, eu sou o Flávio Augusto, e você é quem vai salvar a
minha vida. Você tem 50 centavos para me emprestar (risos)?” Ela já seguia o GV há bastante tempo e jamais imaginaria que, quando me conhecesse, logo no primeiro dia eu lhe pediria
dinheiro emprestado.

Toda família também mora em Orlando. Conheci o marido e então os convidei para que eles e os dois filhos fossem meus convidados num jogo do Orlando City, quando eu levaria os meninos até o gramado e o filho mais novo, de oito anos, para entrar de mãos dadas com os jogadores na hora do hino dos EUA. Agradeci bastante e, com menos de meia hora, já estava saindo do Consulado,
com tudo resolvido.

Com isso, mandei outro WhatsApp para o Pete e pedi para preparar a tripulação para anteciparmos o voo para Orlando, e ainda deu tempo de duas coisas: vir neste lugar maravilhoso
para tomar um belo café da manhã e escrever este texto para você.

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Parabéns ao Embaixador, Adalnio Senna Ganem, pelas novas instalações e, principalmente, pela motivação e profissionalismo da sua equipe. Agendei o horário no Consulado anonimamente e
este é o serviço comum oferecido a qualquer brasileiro que precisar de serviços consulares na Flórida.