Tenho dois filhos que jogam futebol. O mais velho, meio campo, que está inscrito na Federação Portuguesa de Futebol e disputa torneios oficiais, e o outro, zagueiro, que joga pela escola. Ontem eu acompanhava o segundo num torneio de uma escola internacional tradicional de Lisboa. No intervalo, depois do primeiro tempo, fui ao carro, acompanhado do preparador físico dos meninos, para pegar um casaco, pois ventava muito forte na região. Enquanto conversava com o preparador físico, percebi que no chão havia uma nota de 10 euros perdida. Ao pegar a cédula de 10 euros, vi que não havia ninguém por perto e, como o vento era muito forte, era impossível saber a origem do dinheiro. Portanto, disse sorrindo ao preparador físico: “achei 10 euros!”
O preparador físico ficou muito impressionado, quase que se lamentando pelo fato de ele não ter sido o “agraciado” pela descoberta. Confesso que senti vontade de dar os 10 euros para ele, mas não consegui encontrar razões suficientes, racionais e construtivas para isso. Hoje, dessa vez acompanhando o mais velho num jogo pelo campeonato distrital, durante o intervalo, convidei o preparador físico que também me acompanhava, para tomarmos um lanche. No caminho, disse a ele: “Vamos gastar aqueles 10 euros?” Ele sorriu, vendo que eu o convidara para desfrutar comigo de minha descoberta, mas, no entanto, me disse que já havia lanchado. Então, comprei para mim um belo sanduíche, acompanhado de um Ice Tea.
Depois de comer, na hora de pagar, a conta deu 5 euros. A senhora que nos atendia de forma muito gentil pegou a tal nota de 10 euros e, antes que ela me entregasse os 5 euros de troco, eu disse: “Tá tudo certo. Pode ficar com o troco”. Ela meio que duvidou do que pensava ter entendido, afinal poderia ter se confundido com meu sotaque de brasileiro, muito comum nas novelas da Globo exibidas aqui em Portugal e, por isso, ainda assim pegou o troco para me entregar. Então, eu repeti com mais ênfase que ela poderia ficar. O preparador físico a esta altura observava atento e via os olhos da senhora brilhando, pois, segundo ele, não é comum uma gorjeta de 100%. Saindo do bar, eu disse que tive vontade de compartilhar com ele os 10 euros que achei, mas como ele não quis lanchar novamente, compartilhei com a senhora do bar, que ficou muito feliz.
Num instante depois dessa experiência, eu me lembrei do GV, porque quando se compartilha conhecimento acontece algo muito parecido com essa história. Analisemos alguns aspectos:
1. Você só pode compartilhar aquilo que você achou. Da mesma forma que achei 10 euros no chão, eu também tive a felicidade de achar, em 1991, através de um anúncio de jornal, uma empresa que me contratou numa escola de inglês. Enquanto muitos desprezavam aquele tipo de trabalho na área de vendas, foi ali que eu aprendi minhas primeiras lições no setor de idiomas, tive um líder que me acompanhou em meus primeiros meses e outro que me ajudou a me desenvolver como executivo. Aqueles 4 anos foram cruciais para eu ter transformado minha confiança, minha visão, meu autoconhecimento, o controle de minhas emoções e ter desenvolvido habilidades em vendas, liderança, recrutamento e seleção, além do conhecimento desse setor.
2. Da mesma maneira que senti vontade de compartilhar os 10 euros, eu me dei conta de que, em 2011, o GV nasceu também de um desejo de compartilhar um conhecimento conquistado. O mais interessante é que muitos podem achar que isso seja uma caridade unilateral, no entanto, quando eu compartilhei os 10 euros, eu aproveitei a metade do valor que eu sequer tinha no dia anterior. Isso significa que, para mim, além de não ter perdido nada, ainda ganhei 5. No caso do GV, compartilho conhecimento, gasto algum dinheiro que, para os parâmetros da sociedade, pode ser considerado muito dinheiro, mas pouco para mim, que tenho conquistado bastante. No entanto, o mais interessante e, aparentemente, paradoxal é que quanto mais compartilho mais eu ganho. Isso sem contar que, desde que iniciei este projeto, as pessoas, talvez como retribuição ou confiança, não sei ao certo, sempre me apoiam em minhas novas iniciativas, produtos ou empresas. Francamente, não fiz o GV com esta finalidade, mas o fato é que quanto mais compartilho, mais eu pessoalmente ganho, não apenas em satisfação pessoal, mas ganho também financeiramente. Louco, não?
3. Depois da experiência no bar eu fiquei feliz, porque tive a certeza de que o melhor mesmo foi não ter dado os 10 euros para o preparador físico com quem conversava, porque o que de melhor eu poderia ter dado a ele era o exemplo de como vale a pena compartilhar. Ao vermos a satisfação da senhora do bar e seu sorriso surpreso, constatamos o como e quanto podemos fazer a diferença na vida de outras pessoas, em especial de pessoas simples e geralmente tratadas como se fossem invisíveis, com simples gestos.
Compartilhe suas conquistas sem desejar nada em troca. Vale muito a pena e, geralmente, o que vem em troca é muito maior do que a nossa matemática é capaz de contar.