(Uma reflexão sobre o jeitinho brasileiro de escolher políticos)
No meio de tanta confusão, mentiras, calúnias vindas de todas as partes, o que particularmente me envergonha muito como brasileiro, vamos tentar ter uma conversa um pouco mais racional sobre o assunto.
Vou tentar omitir as minhas preferências, mas sem abrir mão da sensatez cada dia mais escassa nas discussões das redes sociais.
Eu sou a favor do bolsa família. Não sou a favor de seu uso eleitoral como tem sido feito através da disseminação do medo. Medo de perder o benefício que, cá pra nós, ajuda o orçamento de quem é pobre, mas infelizmente não resolve o problema da pobreza, já que ninguém deixa de ser miserável porque ganhou 70 reais no mês.
A pobreza de um país se resolve depois de décadas de investimentos sérios em educação. Mas não basta apenas despejar dinheiro do orçamento. Este problema se resolve com honestidade na aplicação dos recursos e com competência na gestão para implementar os projetos.
Por exemplo, coloque 1 milhão de reais nas mãos de alguém desonesto para ajudar na educação das crianças de um bairro carente. O que acontecerá? O óbvio, ele vai dedicar o seu tempo a desviar o máximo possível deste recurso. O seu foco será a corrupção e não a solução do problema que certamente não será resolvido.
Numa outra hipótese, coloque agora 1 milhão de reais nas mãos de alguém incompetente para ajudar na educação dessas mesmas crianças deste bairro carente. O que vai acontecer? Novamente, o óbvio. Ele não saberá planejar e nem implementar a gestão deste recurso para solucionar o problema da educação das crianças. Vai escolher fornecedores incompetentes, metodologias ruins, não saberá gerir o fluxo de caixa e ainda no final vai pedir mais recursos, alegando que a verba não foi o suficiente. Incompetência na gestão.
O baixíssimo IDH – índice de desenvolvimento humano – do Brasil não é resultado da falta de recursos, mas sim da incompetência e desonestidade com que o país tem sido gerido por anos. No entanto, hoje em dia, a competência, a fala mais racional, o discurso mais articulado são consideradas características elitistas pelos mais desinformados. Enquanto uma conversa com a presença de erros básicos no português, o discurso malandro e a postura metalúrgica tem sido considerada uma conversa mais confiável, porque afinal vem de “gente como a gente”.
Este fenômeno é conhecido como INEPTOCRACIA. Vamos a definição da palavra:
Ineptocracia: É um sistema de governo onde os menos capazes de liderar são eleitos pelos menos capazes de produzir, e onde os membros da sociedade com menos chance de se sustentarem ou serem bem-sucedidos são recompensados com bens e serviços pagos pela riqueza confiscada de um número cada vez menor de produtores.
Já a DEMOCRACIA é o governo do povo.
Uma sociedade é formada por gente simples e gente culta; gente pobre e gente rica; gente religiosa e ateus; homossexuais e heterossexuais. Então, quem é o povo? O povo são todos, sem exceção. O povo não é somente o pobre, não é somente o hétero, não é somente o cristão e nem todas as maiorias.
O povo é todo mundo, sem exceção. Não existe um grupo que seja mais povo do que o outro. Todos são povo.
No entanto, dentre todos esses grupos, o povo, há os que são competentes, os que estudaram mais, os que são mais capazes, preparados e que poderiam ajudar a sociedade a ter melhores serviços públicos, melhores leis, melhores modelos urbanos etc. A tal “Gente como a gente” simplesmente não é credencial suficiente para administrar uma máquina tão complexa como o Estado.
Eu quero os melhores para trabalharem em minhas empresas, quero os melhores jogadores em meu time de futebol e também quero os melhores governando o país. Não adianta somente ser bem intencionado, ter uma ideologia bacana ou ter um discurso carismático e politicamente correto.
Você preferiria “gente como a gente” para pilotar o avião que você estivesse dentro dele ou você preferiria um piloto experiente para ser o comandante de sua aeronave? “Gente como a gente” para ser o seu cirurgião ou alguém que já realizou centenas de cirurgias com sucesso? A resposta é óbvia.
A premissa desse jeitinho brasileiro de escolher políticos está toda errada e por isso o país não tem sido tão respeitado no exterior e não apresenta para a população a qualidade de vida que a 7ª maior economia do mundo poderia oferecer aos brasileiros. Motivo? Desonestidade e/ou incompetência.
Já disse aqui que já morei nos EUA, Austrália, Espanha, Inglaterra e Portugal. Todos, países com seus problemas, mas são muito mais seguros para se viver e com uma incrível eficiência do sistema, dando a população pelo menos o básico que não se tem acesso no Brasil. A comparação é inevitável e as diferenças são brutais.
A certeza que toda pessoa que conhece o mundo tem é que o Brasil PODERIA ser um dos melhores lugares do mundo para se viver, mas no entanto, sua população sofre pela desonestidade ou incompetência de seus líderes que por sua vez foram escolhidos com critérios equivocados: “gente como a gente” cometendo um monte de erros de gestão e deixando a conta para o brasileiro pagar…
Eu sinceramente quero sempre ser governado por gente mais capaz do que eu, mais preparada do que eu, com mais visão do que eu. “Gente como a gente” só serve pra governar se for competente. Do contrário, não serve. Neste sentido, sejamos honestos e práticos: precisamos dos melhores cérebros para equacionarem as melhores soluções para o país.