Dessa vez o Papai Noel vai protestar 

(Concorde ou discorde, mas pelo menos exerça seu direito de pensar com seu próprio cérebro, livre do fluxo comum).

Há três anos, no primeiro ano do GV, fiz um post sobre o Natal que, nas devidas proporções, ainda com menos de 30 mil seguidores na página, gerou muita polêmica.

Tenho 3 filhos (14, 12 e 4 anos de idade). Por isso, decidi compartilhar um tema que vai pegar alguns de calça curta.

O que você ensina ao seu filho sobre ele ser verdadeiro?

Provavelmente, você tenta criar nele uma relação de cumplicidade de maneira que ele sempre se sinta seguro e confiante para compartilhar tudo que pensa e enfrenta em seu dia a dia na escola e com os amigos. Sei que você espera dele sempre a verdade. Claro, nos dias de hoje, é preciso estar muito atento a tudo o que se passa com os nossos filhos e essa cumplicidade é a principal “arma” contra as más influências.

Bem, se a verdade e a cumplicidade são tão importantes e devem ser cultivadas, eu tenho uma pergunta a lhe fazer:

Você costuma mentir para seus filhos? 

Talvez você diga que não ou quem sabe diga que “às vezes”. Enfim, seja qual for o seu caso, uma vez que seu filho perceba que você mente para ele, por hipótese, a partir desse momento, ele passará a filtrar o que você diz e, quem sabe, não confie mais de primeira em você, dando a ele o espaço para que faça o mesmo com você.

Não quero entrar em discussões morais sobre a mentira. Cada um que faça de sua vida o que quiser. Mas o que quero ressaltar é que, se seu filho flagra sua mentira, ele não confiará mais em você, ou, no mínimo, vai pensar duas vezes antes de lhe dar credibilidade. Simples assim.

E sobre o Papai Noel: você mentiu para ele? Isso mesmo. Por acaso, você nutriu essa falsa história do velho gordo e barbudo que entra pela chaminé (sua casa tem uma?) como uma maneira bonitinha de enganá-lo de acordo com a tradição consumista que é disseminada pela propaganda, a fim de promover a troca de presentes?

Alguém pode dizer assim: “mas, Flávio, você está agora exagerando, porque é muito bonitinho ver a criança fantasiando. É parte da infância e dessa fase que vai passar”.

Bem, a criança não está fantasiando. Ela acredita mesmo que é verdade toda essa história que contaram para ela. Na realidade, quem está fantasiando é você, que dissimula sobre essa história para manter a tradição que você carrega por anos e que agora quer passar adiante, pois, afinal, foi assim que você aprendeu. Mas será que é assim mesmo que deve ser?

Amo troca de presentes, do clima de família e dos dias de festas, mas nunca contei essa história de Papai Noel para os meus filhos.

Um dia, eles vão descobrir que foram enganados. Alguns vão se perguntar: “Mas para onde foram as minhas cartinhas? Era tudo mentira?” Muitos superam esse momento, mas, segundo estatísticas, outros sentem-se traídos e passam a não acreditar mais em novos “Papais Noéis” em sua vida. Outros sentem-se traídos pelas pessoas em quem mais confiavam.

Papai Noel não é um problema das crianças, mas sim dos adultos que são apegados emocionalmente a essa história ou que se sentem presos por não saberem como acabar com a mentira que eles mesmos contaram para seus filhos.

Antes de qualquer coisa, vale lembrar que o Natal, por definição, não tem nada a ver com o velho barbudo vestido de Coca-Cola. Além do mais, quem trabalha e dá o presente é você. Portanto, esse mérito é todo seu e não de nenhum personagem imaginário que povoa o imaginário das crianças através da lorota contada por toda a sociedade, escola, e é sustentada por todos numa mentira institucionalizada em rede nacional, com apoio da mídia e dos shopping centers, que estão sempre de olho em seu cartão de crédito. Uma bela estratégia de marketing.

Achou isso Xarope? Como sempre digo, estou aqui mais para incomodar do que para alisar seu ego. Sou idealista e não gosto de seguir a boiada, adotar os costumes de um sistema hipócrita que trocou o significado da data por promoções desenfreadas.

Faça um teste. Atreva-se a não dar um presente de Natal ou aniversário para sua mãe ou sogra. Virou quase que uma obrigação do guia do politicamente correto dar presentes para não ficar mal. Eu me recuso a ser forçado a fazer qualquer coisa que não seja de forma espontânea e que tenha um real significado. Não sou massa de manobra.

Aproveito o final de ano para desfrutar de momentos com a família e refletir sobre o próximo ano, próximo ciclo que se enquadra dentro de um calendário que alguém criou. Mas não vamos falar sobre isso agora, porque se não vai ficar longo demais.

Para resumir, gosto do simbolismo da transição do calendário e aproveito esse período para me focar um pouco mais na família, festejar e ser grato por mais um ano juntos.

Desfrute da família e da confraternização com os amigos sem moderação, mas sempre pensando fora da caixa.