Uma visão político-econômica da América do Sul

Mauricio Macri vence as eleições presidenciais na Argentina. Um empreendedor que decidiu ajudar seu país a se levantar de décadas de governos populistas. A Argentina, que um dia já teve a economia mais relevante da América do Sul, testemunhou a destruição de seu mercado e do poder de compra da população depois do país ser inundado por programas populistas. Sempre, numa primeira impressão, esses programas são bem recebidos pela população mais simples, mas que a médio prazo não se sustentam e destroem os fundamentos da economia, deteriorando a credibilidade do país no cenário internacional e empobrecendo dramaticamente sua população, até que todos percebam que foram iludidos. Esse é o resumo da história da Argentina nos últimos anos. Macri assume uma Argentina quebrada, porém cheia de esperança em sua reconstrução.

Macri já anunciou que a relação profunda que a Argentina tem com a Rússia e a China será reorientada para um maior alinhamento comercial com os EUA, UE e Brasil, enquanto recomendará veementemente a exclusão da Venezuela do Mercosul por violar os preceitos democráticos, perseguir opositores (a exemplo de Leopoldo Lopes, preso por se opor ao regime de Maduro) e pela perseguição e censura da livre imprensa.

Não é por acaso que, também na Venezuela, o povo, cansado da retórica populista, empobreceu dramaticamente e hoje precisa se submeter de forma humilhante a horas nas filas para comprar comida, que é controlada rigorosamente pelo governo. Cada um compra sua cota e precisa voltar no outro dia.

As recentes pesquisas indicam uma iminente derrota chavista nas próximas eleições. Os números da economia não mentem e a população venezuelana sente na pele o efeito da enorme inflação, da falta de alimentos, da violência pública que explodiu e do desemprego, que é consequência do fechamento de grande parte das empresas privadas. Um caos anunciado por quem entende que economia é coisa séria e que discursos populista não enchem barriga depois que o dinheiro acaba. Mais um castelo de areia desmoronado e uma população machucada e decepcionada.

Já na Bolívia, o presidente Evo Morales manobra para modificar a constituição para ficar mais tempo no poder, o que aconteceu na Venezuela com sucesso e na Argentina sem sucesso. Voltando à Bolívia, uma reforma parcial da Constituição será votada em referendo em 2016. A mudança permitiria duas reeleições consecutivas.

O ex-presidente Lula foi pessoalmente a Buenos Aires tentar ajudar na campanha do sucessor de Cristina Kirchner, Daniel Scioli, mas o populismo realmente demonstra desgastes em toda América Latina por razões óbvias: o povo cansou. O populista se sustenta até a economia desabar. Depois disso, o povo desperta da ilusão, descobre que não existe almoço grátis e que, para produzir riqueza, não tem outro jeito, a gente tem mesmo é que trabalhar. Não existe atalho. É uma questão básica de matemática. O problema é que geralmente as grandes massas descobrem isso muito tarde, depois, quando o estrago já está feito.

Em qualquer lugar do mundo, o estado depende de arrecadação de impostos pagos por aqueles que produzem. E quando as políticas públicas atrapalham, aqueles que produzem vão embora do país. E o povo que depende de seu emprego fica desempregado, sem dinheiro, e o governo em recessão. Aliás, segundo o banco Goldman Sachs, o Brasil deve ser o único país em recessão em 2016, dentre as 12 maiores economias do Planeta, apesar de ainda tentar justificar sua recessão numa suposta crise internacional.

Já no Paraguai, o primeiro a sair da rota populista, o país é o que mais cresce na América do Sul nos últimos anos, para onde muitas empresas brasileiras têm mudado suas sedes, por encontrarem menores custos de produção, apesar de pagarem salários maiores, além de pagarem menos impostos. Ganha o Paraguai, ganha o investidor e perde o Brasil, que para fazer o ajuste fiscal nutre sua sede voraz por cobrar ainda mais impostos.

Parece que depois de mais uma década, o vento populista está minguando. Bom para o Brasil, que tem um enorme potencial para se tornar uma das maiores potências do mundo (caso também mude de mentalidade) e que tem pressa de recuperar o tempo perdido. Para isso acontecer, em vez de esperarmos algo do estado, ao contrário, temos que trabalhar, empreender e desenvolver projetos para que o país cresça. De novo, não existe atalho.

Como disse J.F. Kennedy, ex-presidente dos EUA, “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país.”

Quando a gente entende isso, paramos de esperar algo do estado e as conversas fiadas dos políticos em época de eleições não colam mais. Além disso, nos lembraremos de que os políticos são nossos empregados e que nosso protagonismo e liberdade não têm preço. Aliás, liberdade é tudo de que precisamos. O resto pode deixar com a gente.