Uma crítica dura

“Pela média de anos anteriores, foram assassinados 154 brasileiros no mesmo dia em que mataram 12 em Paris. Alguém por acaso viu o governo brasileiro preocupado com isso? Brasil, pátria assassina.”

Esta declaração foi feita por um jornalista de um importante portal brasileiro. A questão é muito séria, porque entra ano e sai ano, entra governo e sai governo, e nada muda. Na realidade, muda, sim, porque essa estatística tem piorado a cada ano. A população encontra-se refém de seus governantes descompromissados, que em vez de punirem, buscam encontrar justificativas para a criminalidade, protegendo os marginais com suas teses complacentes. A culpa é da sociedade, ou seja, das vítimas.

Enquanto isso, mães choram pela morte de seus filhos e sonhos são despedaçados por bandidos inescrupulosos. São quase 60 mil assassinatos no Brasil por ano. Mais que no Iraque, Afeganistão e outras regiões de conflitos no mundo juntas.

O governo nada faz, a não ser o papo mole de sempre. Omitem-se, enquanto você poderá ser o próximo dessa estatística desprezada por quem tem apenas o interesse em se perpetuar no poder e não se acha na obrigação de lhe prestar contas de sua responsabilidade. Um descaso e desprezo pela população que se acostumou a ser enganada pelas promessas nas campanhas políticas repletas de mentiras descaradas. É a institucionalização da cara de pau.

Estou falando de números, estatísticas e resultados fracassados do governo que sempre adotará a tática do jogo de empurra. Nas eleições presidenciais, os candidatos dizem que puxarão a responsabilidade para o Governo Federal. Depois de eleitos, a culpa é do Governo do Estado. Gozam da nossa cara, enquanto gastam dinheiro sem um pingo de dó, sem contar com os casos de corrupção que flagram desvios de dinheiro sem um pingo de vergonha.

Este país está entregue a essa nova classe, a essa nova elite, que explora pobres e empresários com impostos que não param de subir e com serviços públicos que não param de cair a sua qualidade.

A nova elite do país são os políticos no poder. Eles são ricos, poderosos e sentem-se absolutamente imunes e intocáveis. Donos do país, da verdade e da lei. Controlam até o inimaginável, enquanto você é encurralado dentro de sua casa com tranca nas portas e grades na janela, nutrindo sua síndrome do pânico todas as vezes que sai pelas ruas.

Ou pior, não sente nada disso, porque já se acostumou a viver neste caos e, por isso, acha normal. Sempre que escrevo sobre isso, algum desavisado diz nos comentários: “acho isso um exagero”. Pessoas que se acostumam com o caos são como alguém que sentou por acidente num prego de 10 cm. Na hora que sentou e foi perfurado em suas nádegas pelo prego, sentiu uma dor insuportável. No entanto, em vez de retirar o prego e tratar da ferida em busca da cura, acostumou-se com ele e as bactérias que infectaram o seu corpo. Faz curativos todos os dias, toma antibiótico, senta de lado e convive com a dor do prego em sua bunda. Passa anos com o prego introduzido em sua carne até que não se incomoda mais com ele. Um dia, morre de infecção. Por que não simplesmente retira o famigerado prego? Não. Acostuma-se com o caos.

Não, não somos a pátria educadora, porque ostentamos mais de 500 mil notas zero na redação do ENEM e apenas 250 notas máximas. Na realidade, com quase 60 mil assassinatos todos os anos no Brasil, eu sou obrigado a concordar com o nobre jornalista. O Brasil é uma pátria assassina.

Que Deus lhe proteja, porque, afinal, hoje, mais 154 brasileiros – homens, mulheres, velhos ou crianças – serão assassinados.