A parada gay, no formato que tem sido apresentada, é um antimarketing para a população homoafetiva. Ela não apresenta propostas claras e tampouco é capaz de criar uma conexão coerente e harmônica entre esse grupo e a sociedade de quem tanto deseja conquistar apoio.
Sem fazer uma pesquisa, eu me atreveria a dizer que uma parte expressiva dos homossexuais não se sente confortável com o evento nesse formato. Pelo menos os que conheço não são a favor.
Eu sei que tem muita gente séria que participa da marcha com as melhores das intenções. Mas a organização do evento, ou seja, quem cria e gerencia a grande massa presente, parece ter uma afixação por desrespeitar e agredir a fé de grupos religiosos, agredindo seus símbolos, que inclusive são protegidos por lei.
Além disso, a relativização moral que o formato do evento promove, através de encenações sexuais, são impróprias para o horário e para sua prática nas ruas da cidade. Isso é realmente necessário?
A grande desconfiança é que a causa dos homossexuais em busca de alguns direitos dentro da sociedade pode estar sendo usada com outros fins por grupos políticos, a qualquer custo, ainda que isso pudesse comprometer a imagem e dignidade do próprio grupo em questão, que já sofre com muitas discriminações.
Cuidado para não achar que essa abordagem é careta. É uma questão de lei, pois há enquadramentos específicos na legislação sobre cada um desses temas que garantem a ordem pública e os princípios de bons costumes que regem qualquer sociedade no mundo, leis que valem para qualquer grupo social, racial e de qualquer orientação sexual. Ou seja, patrocinar um evento com dinheiro de contribuinte – a propósito, esse evento custou para o contribuinte cerca de R$ 2,2 milhões – promovendo o descumprimento da própria lei vigente no país é um enorme paradoxo.
Não sou contra a realização de uma parada gay, de manifestações de homossexuais ou de quem quer que seja. Considero um erro estratégico sério a forma como esse evento é concebido e executado para os fins a que supostamente se propõem. Se eu fosse gay, sentiria muita vergonha, não me sentiria representado e tampouco concordaria com a estratégia adotada pela organização.
O que isso tem a ver com empreendedorismo?
Temos aí uma questão de marketing clássica. Uma empresa, marca, organização não governamental ou causa são representadas por suas ações de comunicação. A parada gay é uma ação de marketing de um grupo que supostamente quer apresentar para a sociedade sua causa e ganhar apoio e representatividade. Sob o ponto de vista do marketing, a parada gay nesse formato presta um desserviço à população homossexual brasileira por não construir uma boa imagem desse grupo crescente da população.
Além de ter um número razoável de homossexuais em meu ciclo de relacionamento, que inclusive me encorajaram a escrever este artigo, sei que também temos vários homossexuais que seguem o GV. Gostaria muito de ouvir a opinião de vocês nos comentários e, quem sabe, enxergar algo diferente do que fui capaz de ver até agora.