É possível ensinar empreendedorismo?

Recentemente eu tive uma conversa muito agradável com uma família portuguesa. Como cheguei atrasado ao almoço, porque estava no primeiro hangout do GV, foi inevitável que eles perguntassem muito sobre o evento e seu conteúdo.

Depois de conversarmos bastante sobre o GV, uma das pessoas, que é professora numa universidade, perguntou-me sobre qual seria minha opinião a respeito do ensino de empreendedorismo nos cursos de graduação, pois, apesar de existir essa cadeira, ela questionou o fato de ser tão ineficiente.

Em minha resposta, fiz uma analogia sobre a primeira empresa que eu fundei, a WiseUp, que vendi recentemente. Esta foi minha resposta:

“No Brasil, apenas 3% da população fala inglês, mesmo considerando que em todas as escolas públicas e privadas estuda-se inglês a partir do ensino fundamental até o final do ensino médio. Ou seja, um aluno que entra na universidade, no Brasil, no mínimo, estudou inglês por 10 anos, tempo suficiente para se aprender o idioma. Mas, como isso não acontece, esta é a razão pela qual existem dezenas de marcas de escolas de inglês no país.”

Mas por que a escola é tão incompetente? Por algumas razões bem simples. Convidei para a reflexão:

1 – 95% dos professores de inglês das escolas não sabem falar inglês com fluência. Simples assim. A condição para se dar aulas de inglês, segundo o MEC, é que o professor seja formado em Letras e ninguém aprende a falar inglês na faculdade de Letras. Lá, eles aprendem a gramática e pedagogia para ensinar a gramática, mas não são aptos em sua maioria a falar o idioma com fluência.

2 – Não há metodologia de ensino. As escolas adotam livros, muitas vezes importados, mas não há uma construção metodológica que crie nexo entre o conteúdo transmitido em cada série, além de que o foco não está na fluência da língua.

3 – Há um grande desnível entre os alunos, pois alguns fazem curso de inglês e outros não, além de estudarem geralmente numa turma enorme, com 40 alunos.

O resultado da combinação desses três fatores é o fracasso absoluto das escolas no ensino de inglês. Pense comigo: se o próprio professor não sabe falar a língua com fluência, como ele seria capaz de ensiná-la? Para concluir: se a escola fosse competente, simplesmente não existiriam tantos cursos de inglês no Brasil.

Para estudar História, Biologia, Geografia, entre outras matérias básicas, basta ler um livro. Mas, para falar inglês, é preciso ter um professor que domina a língua, que tenha uma metodologia e que o aluno pratique bastante para desenvolver sua performance no idioma.

Pra concluir, expliquei que empreendedorismo é como um idioma, pois é uma questão de performance. Não é possível alguém que nunca empreendeu com sucesso ensinar empreendedorismo, apenas porque estudou, gosta do assunto ou leu livros sobre o tema, ainda que faça isso com muito carisma e entusiasmo. Nesse caso, não basta ter entusiasmo, pois, por mais bem intencionado que seja o professor ou com todo suporte da pedagogia que aprendeu, jamais terá a autoridade e nem a experiência para ensinar os seus alunos a arte de empreender como no mundo real.

Esse conceito vale para a vida. Na hora de adotar referenciais, olhe para a obra, para o tamanho dos resultados e conquistas concretas alcançadas pela pessoa que você deseja seguir. Avalie bem se, ao ser guiado por essa possível referência, você não está correndo o risco de se tornar um cego sendo conduzido por outro cego com a missão de atravessar a avenida Brasil em pleno horário de pico. Seria uma tragédia.