Por desencargo de consciência

Uns querem ser famosos, outros querem viver discretamente. Uns querem construir uma família, outros fazem companhia a si mesmos.

Uns querem liberdade, enquanto outros preferem o estado no controle. Uns correm atrás de dinheiro, enquanto outros de realização e tranquilidade.

Uns são religiosos, outros acreditam apenas na ciência. Uns preferem o sexo oposto, enquanto outros têm uma orientação para o mesmo sexo.

Uns acreditam num país dividido em classes, outros acreditam num país unido. Uns entendem justiça social como divisão de riquezas, enquanto outros entendem como multiplicação de oportunidades.
Uns são agressivos, outros são polidos. Uns escondem sua inveja por trás de seus dogmas, enquanto outros nem escondem mais.

Uns gostam de verde e outros de roxo. Uns preferem rock, outros funk.

Eu não preciso concordar ou gostar de suas ideias, mas tenho a obrigação de respeitá-las.

O Brasil desaprendeu a conviver pacificamente com suas diferenças. A polarização tem levado o país para os seus extremos mais perigosos. Não apenas na política, mas também em vários setores da sociedade.

Tolerância religiosa, ideológica, política, respeitar diferenças e discutir ideias sem agressões é o que o Brasil precisa reaprender.

Quem sai de casa ou entra nas redes sociais disposto a agredir e a não tolerar as diferenças contribui para uma sociedade cada vez mais decadente.

Eu sei, a população cansou dos políticos, mas não pode cansar de ser tolerante. Não temos futuro como nação se a tolerância ficar de fora de nossa agenda.

O Brasil que eu acredito tem uma grande diversidade de ideias e pontos de vistas, mas é muito diferente desse Brasil que tenho visto. Eu acredito num país tolerante, pacificador e que não se alimenta de “tretas”. Um país de caça-tretas não tem futuro.

O Brasil que tenho visto é um Brasil onde os defensores da tolerância são intolerantes ao combater a intolerância. Louco, não é? É um Brasil dos defensores das causas humanitárias não tendo o mínimo de piedade para linchar e promover o linchamento de um ser humano na internet por seus deslizes.

A polarização cansa, é improdutiva, desvia nosso foco e atende apenas aos interesses dos que lutam por poder. Não é o meu caso. É o seu? Acho que não.

Não tenho a pretensão de fazer uma análise mais profunda ou de justificar as razões para esse espiral no qual entramos.

Faço parte do problema e você também. A boa notícia é que fazemos parte da solução.

Deixo registrado este relato, mesmo sabendo que a possibilidade de que ele tenha algum efeito sobre militante polarizado e fanático seja quase nulo. Esse está apaixonado pela treta e se alimenta dela todos os dias. Isso lhe dá um senso de missão de vida ainda que seja a de tornar o Brasil um lugar pior, em nome de seus nobres fins que tentam justificar seus podres meios.

Faço este relato apenas por desencargo de consciência.

Está dito.