O que penso sobre os atentados na França

Uma GV me perguntou sobre o que penso a respeito dos atentados na França. Abaixo, minha resposta.

Minha definição sobre tolerância religiosa:

1. Se alguém faz uma charge ofensiva sobre a fé de quem quer que seja e sobre o que esta pessoa acredita, ninguém deve sair atirando e matando as pessoas pela rua por isso. Se alguém se sentiu ofendido, deve tolerar as diferenças de opinião e recorrer ao judiciário para ser ressarcido por eventuais danos.

2. Por outro lado, um jornalista ou chargista deve usar sua liberdade de imprensa, diga-se de passagem, inegociável, com responsabilidade e, acima de tudo, respeitar todas as religiões e a fé de quem as pratica. Isso também é tolerância religiosa.

A tolerância religiosa praticada pelas duas partes é um ingrediente importante da construção de um mundo melhor e evita que outros loucos e fanáticos sejam despertados nos dois extremos. Sim, neste momento, uma multidão de outros fanáticos foi despertada dos dois lados.

Do lado dos muçulmanos, os mais equilibrados condenam os ataques. No entanto, uma minoria extremista, que provavelmente aumentou depois das provocações feitas pelos desenhos publicados, achou que os chargistas tiveram o que mereciam.
Por outro lado, no outro extremo, há os que consideram que os imigrantes muçulmanos devem ser expulsos da França, considerados ameaças Talvez, hoje sejam os muçulmanos. A derrocada dessa tendência de intolerância religiosa-racial é exacerbada em episódios como esse nos dois extremos, numa guerra sem fim e com consequências incalculáveis.

Por isso, sou a favor do respeito entre as religiões. Essa postura está acima do que seja legal e do direito de se expressar garantido por lei. O respeito à fé e cultura dos vários povos do Planeta, mesmo que isso pareça a coisa mais idiota do mundo para nossa cultura, mesmo que isso seja diferente de minha fé e mesmo que isso sequer faça sentido para mim, ainda que a lei me permita abrir a boca para eu dizer o que quiser, deve ser praticado para o bem e a paz mundial.

Tolerância religiosa não se mede por leis

A fé é algo intangível, nutrida por milhares de anos em milhões de famílias, de geração em geração. É uma força invisível presente há milhares de anos e que é parte da história da humanidade. A única forma de lidar com essa realidade, a fim de construir um mundo pacífico, com você concordando ou não com os dogmas difundidos pelas religiões, é com respeito e tolerância religiosa. Tolerar é conviver com opiniões diferentes, credos diferentes e posicionamentos diferentes. Isso vale para os dois lados e é um conceito muito amplo e intangível. Por isso, não cabe nas leis.

Tenho o direito legal de falar o que quiser, mas voluntariamente respeito e tolero as diferenças em determinados assuntos e, por isso, faço eu a minha própria seleção daquilo que digo e da forma com que digo. Isso é respeito e tolerância.

Por exemplo, sou lido por milhões de pessoas aqui na página todas as semanas. Sei de minha responsabilidade. Não é parte de minhas prioridades agradar e sei que muitas vezes vou desagradar quando estou escrevendo, principalmente quando confronto valores dessa sociedade medíocre. No entanto, há assuntos específicos que, se eu decidir abordá-los, devo ter mais cautela para não ofender profundamente as pessoas. Tenho liberdade de falar o que quiser, mas eu decido respeitar, tolerar as diferenças e não agredir com minhas palavras ou charges, mesmo sabendo e estando disposto a não agradar sempre.

Este padrão do que é respeitoso ou não muda de acordo com a cultura de cada povo e com a época da história. Há assuntos que tratamos hoje que são considerados normais e há poucas décadas seriam ofensivos e vive-versa. Por exemplo, falar sobre escravidão era considerado natural e legal há um pouco mais de duas gerações no mundo. Hoje, esse assunto é inaceitável. Isso prova que nem tudo que é legal é o justo.

Sou a favor da liberdade incondicional da imprensa e de se ter um judiciário ágil para corrigir os excessos, indenizando a parte ofendida. Por outro lado, sou contra qualquer controle da imprensa feita pelo governo, como muitos defendem, já que isso é um ingrediente básico para iniciar qualquer ditadura em qualquer parte do mundo, em especial na América Latina, que já demonstrou na história sua vocação por ditaduras, sejam civis ou militares.