Negociando com o espelho

Você é o que é. Fato. Seria péssimo violentar a si mesmo para se enquadrar em determinados padrões. Mas, por outro lado, você conseguiria chegar aonde quer sem ser um pouco mais flexível?

Que tal fazer uma reflexão, a fim de detectar em sua personalidade o que vale a pena ser flexível e o que vale a pena ficar um pouco mais padronizado? É simples assim. Para algumas coisas, se você bater o pé, vai sofrer muito e amargar prejuízos. Então, por uma questão de lógica matemática, é melhor ceder um pouco, concorda? Nesse caso, insistir com orgulho no seu jeitinho seria uma burrice.

Você também pode chegar à conclusão de que, com relação a determinadas características, sentir-se livre pode lhe trazer mais benefícios do que se adequar aos padrões mais convencionais. Uma boa solução para casos assim seria identificar qualidades que pudessem compensar esses “defeitos”.

Vou dar alguns exemplos práticos, usando algumas características minhas. Eu não me preocupei com minha educação formal e, aos 19 anos, deixei de lado a faculdade. Diplomas e títulos nunca me interessaram, meu foco desde o início esteve em meu projeto e a ele dediquei minha própria pesquisa e estudos que me permitiram crescer de uma forma multidisciplinar. Nunca tive a necessidade de me sentir aceito pela sociedade e não tive medo algum de ser rejeitado pelo status quo desse senso comum por seguir uma direção estranha e fora do padrão. Ao contrário, sempre me senti bem por nadar contra a correnteza.

Por outro lado, se eu adotasse a mesma metodologia para construir para minha empresa, o resultado seria uma catástrofe. Fatalmente teria problemas tributários, trabalhistas, civis e criminais. É um princípio de minhas empresas serem formais e com 100% de aderência fiscal, tributária e trabalhista. Entrei no padrão porque era a única alternativa para chegar aonde queria e, por isso, cedi.

Agora, em outros aspectos eu não negociei. Não sou a pessoa mais organizada e disciplinada da face da Terra. No entanto, acabo me organizando minimamente porque eu me importo muito em cumprir os meus compromissos assumidos com as outras pessoas. A outra razão é que tenho objetivos muito bem definidos que quero alcançar em minha vida e, nesse caso, eu me mantenho minimamente organizado, do ponto de vista operacional, de maneira que eu possa ter a certeza de que vou alcançar meus objetivos, algo de que não abro mão.

Minha estratégia, por me conhecer bem, é me cercar de pessoas que, enquanto eu desbravo a mata virgem, elas chegam na sequência para organizar, asfaltar e estruturar o projeto. Minha organização é muito mais criativa e relacional e menos operacional e processual, o que é complementado por minha equipe.

Na média final, o que importa é que o resultado tem sido positivo, porque as características que são tradicionalmente consideradas negativas, na realidade, são as que no final do dia, em meu caso, fazem com que, como retribuição pela liberdade que eu assumo em meu dia a dia, eu me torne mais criativo, sensitivo, intuitivo e sem muros em minha imaginação, o que acaba sendo muito produtivo e gera muito valor para os projetos em que invisto.

Esse é um pedaço do meu eu. E quanto a você, o que é preciso para deixar de ser cabeça dura e ceder? E o que você permitiu que fosse sufocado, mas na realidade deveria estar livre, leve e solto?