Os religiosos que não me levem a mal, mas cruz era pena de morte, vergonha, forca, a cadeira elétrica dos dias de hoje, para onde os da pior espécie eram levados a cumprirem sua pena desprezível.
Se Jesus Cristo era inocente, então o que foi fazer lá, no lugar mais alto da vergonha? Ele foi para a cruz porque contrariou os interesses políticos de Roma e toda rede de poder da época, provando que a voz do povo, que gritou o nome de um vagabundo safado – Barrabás – para que este fosse solto, definitivamente não é a voz de Deus.
Jesus tumultuou o esquema, interferiu em muitos interesses, mas principalmente nos interesses de um grupo que pensava dentro da caixa: sempre eles, os religiosos, que encontraram o jeito ideal para eliminá-lo: a cruz.
A revolução promovida pelo filho do carpinteiro, criado numa cidade perto de Jerusalém, de onde nada de bom poderia surgir, não era armada, nem política, mas foi ideológica. A mensagem de Jesus contrariou a lógica limitada vigente que tinha outras expectativas. Esta mensagem estabeleceu o amor como premissa e seu juízo de valores colocou no mesmo nível a elite e uma prostituta, os poderosos e os leprosos, além de nivelar o Clero no mesmo patamar de um cidadão comum. Aí pegou pesado demais. Pena de morte nele, reagiram os que tiveram seus interesses contrariados.
O que ninguém imaginava é que a cruz não seria capaz de calar suas ideias que perdurariam por muito tempo e que elas influenciariam muitas gerações, ajudando a transformar a humanidade em algo mais civilizado nos 20 séculos seguintes.
Sua morte não sufocou as sementes jogadas aos quatro cantos em apenas três anos de trabalho, sementes que reviveram junto com Ele três dias depois, transformando vergonha em esperança, vexame no principal marco da história, além de transformar desprezo em missão cumprida.
Apesar do triunfo incontestável, a religião institucionalizada com direito a CNPJ e seus estatutos continua pretendendo ser maior do que seu ícone, maior que Jesus, seu Deus. A criatura mais uma vez quer tomar o lugar do criador que até hoje insiste em mandar novamente Jesus para a cruz, para a cadeira elétrica. Que tal uma injeção letal? Ou quem sabe para ser amarrado num poste, a fim de ser linchado pelos justiceiros. Bateriam nele com as próprias cruzes que penduram no pescoço ou com as Bíblias que carregam debaixo do sovaco.
Jesus é uma figura impossível de ser ignorada, porque Ele incomoda. Ou o ama ou o odeia. Segue ou rejeita. Seja você religioso ou ateu, esta figura nunca passa em branco (basta observar nos comentários).
Páscoa significa tudo isso e mais um pouco. É sabermos que nossa vergonha pode se transformar em pódio, nossos fracassos em vitória e que para isso é impossível vencer sem contrariar interesses e sem navegar no sentido contrário da correnteza.
Ovo de Páscoa é até gostoso, mas é apenas uma invenção comercial patrocinada pela Kinder, Lacta, Nestlé e companhia. Páscoa de verdade não é chocolate. Páscoa de verdade é outra coisa.