Perdoar é conquistar a liberdade

Tem gente que cresceu ouvindo de seus pais:

– Você não presta para nada!
– Você não tem jeito!
– Você só me dá desgosto!
– Quero que você morra!
– Você é uma praga!
– Por que você não some daqui?

O tempo passa, a vida muda, mas, lá no fundo, ainda existe uma ferida aberta, uma grande lacuna e muitas dúvidas sobre sua própria identidade. Matar o pai ou a mãe dentro de si, como se eles não existissem, definitivamente não resolve. Nutrir rancores adoece ainda mais a ferida. Em outras palavras, fazer de conta que nada aconteceu e tocar a vida para a frente, convencendo-se de que o tempo resolve tudo, é nada mais do que um analgésico para a alma. Mas, na verdade, o câncer continua ali, matando você lentamente, a cada segundo que passa…

Depois de adultos, muitos entram numa fase da auto-piedade, fazendo-se de coitados ou de vítimas. Um grande autoengano, pois cada indivíduo, mesmo tendo sofrido muitas injustiças, continua sendo o único autor de sua própria história. E, como há muitos capítulos por vir, o que fazer com as próximas páginas em branco da vida vale muito mais do que as que já passaram.

Você quer saber se eu tenho um conselho? Sim, eu tenho, mas sei que muitos vão se acovardar em colocá-lo na prática e vão optar por continuar fugindo. Você pode perguntar: “mas isso já passou, o que eu posso fazer?” Você pode fazer algo simples e poderoso. Algo que você vai querer acreditar que é em vão, mas só de pensar em executar você vai tremer dos pés à cabeça. Isso porque tem um poder extraordinário, ainda que você tente se convencer de que seja inútil. Mas, se é tão inútil, por que ter tanto medo?

Vá até seu pai ou sua mãe, pessoalmente (não vale telefone), sente-se à mesa, olhe nos olhos, e diga:

Pai, mãe ou ambos: “Eu vim aqui para fazer algo muito difícil para mim. Para fazer algo que há anos está preso dentro de mim, me machucando e corroendo minha paz. Eu vim aqui para falar de coisas do passado, mas não para cobrá-los de nada, para acusá-los de nada. Tenho certeza de que vocês fizeram o que estava ao alcance ou o que estava dentro de sua visão ou educação. Eu vim aqui para falar sobre as coisas que vocês me disseram, me fizeram, sobre o que aconteceu (especifique cada coisas calmamente e peça a eles que não falem nada e somente ouçam. Faça isso sem agressividade ou mágoa. Se chorar, continue). Como eu disse, eu não vim aqui para cobrar nada. Eu vim aqui para perdoar vocês. Eu vim aqui para dizer, olhando em seus olhos, que eu perdoo vocês. A partir de hoje, isso não tem mais valor para mim e, independentemente de vocês reconhecerem ou não suas falhas, eu perdoo vocês.”

Você não tem idéia do poder de sentar, olhar nos olhos, falar claramente “eu perdoo vocês”, do poder deles ouvirem isso, do poder do confronto, do poder do marco na vida das pessoas envolvidas, sem cobranças, sem acusações, sem orgulho, simplesmente por uma decisão prévia: perdoar.

Muitos, por escolherem considerar que a outra parte não merece essa atitude, por orgulho, ficam escravos do passado, presos na mágoa, no rancor, produzindo substâncias cancerígenas em seu organismo por falta de perdão e não saem do lugar. Tornam-se zumbis ambulantes, mortos vivos, a amargura em forma de ser humano. Tudo pelo medo – ainda que não admitam – de dar esse simples passo.

Perdoar é conquistar a liberdade. É um benefício maior para quem perdoa do que para quem é perdoado. A simples iniciativa de sentar, olhar nos olhos e falar abertamente e de forma audível “eu perdoo você” tem um poder impressionante de cura das feridas invisíveis que estão dentro de você. Em alguns casos, produzem efeitos extraordinários na outra parte. Mas não precisa esperar isso. Escreva sua história. Se para a outra parte não mudar nada, deixe que ela continue escrevendo a história do jeito dela. Mas a sua, a partir desse momento, será outra! Será livre para avançar sem nenhuma âncora que lhe prenda no passado. Ou seja, seja qual for a reação do outro lado, você não será mais o mesmo depois dessa conversa.

Reflita com carinho. Os desafios da vida já são grandes o suficiente para que você não aceite carregar nada do passado em suas costas. Perdoe o mais rápido possível e livre-se desse peso!