Pensando no Brasil dentro de um trem em Londres

Já ouviu falar que em países desenvolvidos os ricos usam transportes públicos? Ao ouvir essa frase, sempre considerei algo muito distante da realidade, pelo menos a realidade a que fui apresentado no país onde nasci e cresci.

Pois é. Neste momento, estou em Londres, dentro de um trem, a caminho de Stoke, uma cidade a cerca de 220 km da capital inglesa, conectado no Wi-Fi do trem e escrevendo para vocês. Ao meu lado, o CEO do Orlando City e um renomado advogado, indo juntos para uma reunião.

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Isso não é algo que deveria me impressionar, mas, infelizmente, pelo meu baixíssimo referencial, confesso que me impressiona. Quanto mais eu conheço o mundo, o que mais me impressiona mesmo é o quanto não temos o básico e o quanto pagamos bastante no Brasil. E não é complexo de vira-lata, mas, sim, conhecer o melhor e desejar o mesmo para a nossa gente que pena todos os dias nos transportes urbanos.

Certamente, dinheiro não falta. Até porque o Brasil fatura bastante todos os anos com os nossos impostos, descontados na fonte em seu contracheque, em sua declaração anual e através daqueles impostos embutidos em todos os produtos que, no Brasil, fica na casa de 50%. O dinheiro não falta, porque somos a sétima economia do mundo.

Pare para pensar na quantidade de dinheiro que perdemos pela corrupção, pela má gestão das estatais, por investimentos em outros países quando deveríamos priorizar a nossa infraestrutura e qualidade de vida dos que pagaram os impostos, enquanto ainda achamos impressionante um executivo pegar um trem para uma reunião de trabalho.

Vale ressaltar que não estou me referindo aos governos dos últimos 12 anos. Estou me referindo aos governos desde sempre, sejam o governo federal, estadual ou municipal.

Sei que é forte o que vou dizer, mas permita-me ser bem claro com vocês. Quanto mais eu viajo, mais fico com a impressão de que vivi por muitos anos na favela do mundo. Porém, uma favela que é o sétimo país mais rico do planeta. Contraditório, não é? Não há problema algum em morar numa favela, mas porque viver numa favela, tendo a condição de oferecer o melhor para os seus filhos?

Enquanto isso, vejo muita gente orgulhosa com suas disputas de classes. Vejo ricos babacas se gabando e desprezando gente simples. Outro dia, assisti a um vídeo de uma jornalista socialite despejando sua insignificância de valores ao desabafar porque seu candidato perdeu as eleições. Sinceramente, tenho vergonha de gente assim.

Por outro lado, não posso deixar de comentar que também vejo gente simples que, talvez por ter sofrido tanto na vida, acabou ficando recalcada, invejosa e sem o devido respeito pelos que contribuem com os impostos que sustentam os programas sociais que tanto são disseminados aos quatro cantos. A propósito, o exemplo vem de cima e, é claro, não há governo no mundo que chegue muito longe com essa postura de recalque.

Neste momento, há um sério desequilíbrio no ar que contaminou o país, alimentado por líderes que disseminam de forma conveniente essa mentalidade. O mau exemplo vem de cima e não há inocentes nessa história. Mas fato é que não há futuro promissor para o país com este comportamento instaurado.

Solução prática para o problema? O exemplo. Dilma e Aécio deveriam ir juntos a público se desculpar pelas agressões mútuas, incluindo o comportamento de seus militantes e marqueteiros. Mas, em especial, deveriam se desculpar com toda a população brasileira pela campanha lamentável que ambos fizeram. Talvez, assim, com este exemplo, poderíamos recuperar o referencial de bons costumes e dar um bom exemplo para a população, restabelecendo o equilíbrio social e a confiança de todos.

Será que eles seriam capazes de dar esse bom exemplo?

Infelizmente, não acredito que teriam essa moral para deixar o orgulho e as diferenças de lado e tampouco a coragem fundamental de um líder de verdade para assumir a responsabilidade por suas falhas.