Quando mudamos uma simples e aparentemente inofensiva premissa em nossa forma de pensar ou em valores sobre os quais sempre estivemos fundamentados, uma reação em cadeia começa a acontecer de forma invisível, alterando, para melhor ou para pior, nossos resultados e a percepção do mundo a nosso respeito. É o chamado efeito borboleta.
Para um líder, por exemplo, esse desvio inicialmente é percebido pelos seus liderados apenas de forma inconsciente, alterando lentamente sua credibilidade, prestígio e respeito dentro de seu ecossistema. Nessa fase, ninguém sabe explicar o que exatamente está acontecendo, mas se percebe que o sentimento já não é mais o mesmo e o que antes fazia todo sentido do mundo passou a dar lugar a insistentes questionamentos.
Invariavelmente chegará um momento em que aquele pequeno e inocente desvio virá à tona em forma de uma enorme discrepância, quando muitos a essa altura – dessa vez de forma consciente e flagrante – não compreenderão como pode aquele indivíduo tão bem sucedido e equilibrado no passado ter derrapado na curva, tornando-se irrelevante, bem como todos os seus resultados.
Mas o que a maioria não sabe – e provavelmente continuará sem saber – é que esse processo já havia iniciado tempos atrás, quando, movido pela inércia, ainda dava a impressão de que tudo corria bem em sua trajetória.
A verdade é que o sucesso não ocorre por acaso e as maiores lições que são capazes de nos levar a vitórias extraordinárias e bem acima do mercado são bastante simples, porém alicerçadas em princípios imutáveis, valores inegociáveis e fundamentos sólidos que em algum momento passam a desprezar e, por isso, recebem como contrapartida de seu destino sua exclusão das grandes conquistas.
Pior do que isso é terem que vagar pelos próximos anos sem sequer serem capazes de perceber o que perderam e deixaram pelo caminho, estacionados em seu novo referencial mediano e consumindo o que sobrou de sua reputação conquistada num passado distante. Visionários transformados em cegos.
O quanto antes se resgatam as premissas e princípios abandonados, voltando a estar conectado com os fundamentos deixados de lado, menores serão o desvio e as consequências inevitáveis das escolhas feitas. Se, com dignidade, estiver disposto a pagar o preço pela sua fraqueza moral que o afastou do alvo do qual jamais deveria ter tirado os seus olhos, mais rapidamente o fruto das novas sementes plantadas serão colhidos.
Mas se, com orgulho, resignação ou até negando o a existência de seu desvio, talvez como uma forma de autoproteção para poupar-se do sofrimento inevitável, continuando na trajetória errada, será apenas uma questão de tempo, pouco tempo, para que essa linda avenida cenográfica desemboque num beco sem saída, com uma enorme parede de concreto, à espera da colisão derradeira.
Sabe quantas vezes já vi isso acontecer nos últimos 20 anos? Várias. A história sempre se repete, movida pelos mesmos motivos, pelas mesmas fraquezas, pelas mesmas presunções e algumas vezes com os mesmos personagens.
Aproveito, cada vez que vejo isso acontecer, para ficar ainda mais prudente para guardar muito bem os princípios que me trouxeram até aqui. Lembro-me de que essa mentalidade é mais valiosa que tudo, mais que minha experiência, meu know how e até mesmo mais que os recursos que conquistei. Com ela, sou capaz de recomeçar do zero e fazer ainda melhor e mais rapidamente. Sem ela, destruiria com as minhas próprias mãos e em pouco tempo o que levei décadas para construir, sobrando apenas as justificativas para tentar arrumar um culpado.
Esquecer-se desses princípios é permitir que a arrogância adormecida que mora dentro de cada um de nós tome de assalto o lugar da humildade que nos torna eternos alunos na escola da vida. Somente nesse caminho a perpetuidade de nossas conquistas é garantida.
PS: Os princípios abordados neste texto valem para todos os setores da vida. Em muitos deles, particularmente, estou vencendo e em outros tenho sido diariamente desafiado. O texto é denso e bem avançado. Se você tem interesse sobre temas relacionados a liderança, recomendo ler várias vezes e refletir sobre cada parágrafo.