A insatisfação do povo não pode ser chamada de golpismo. Tenham respeito com a população. Nas ruas, mais de 1,8 milhão de pessoas saíram de suas casas para manifestar pacificamente seu descontentamento com o governo. Brancos, negros, jovens, velhos, famílias inteiras, homossexuais, ricos e pobres. Todos expressando sua insatisfação. Isso nunca mais poderá ser negado ou distorcido.
Alguns mais exagerados outros com mais cultura, enquanto alguns com menos educação. A verdade é que a manifestação de hoje foi eclética exatamente como o Brasil é. A diversidade estava impressa nas avenidas das principais cidades do Brasil. Em todos, havia uma única certeza: o sentimento de basta.
O governo não pode ignorar, não pode continuar insinuando que se trata de um público isolado, uma elite branca ou um grupo concentrado em uma determinada região do Brasil.
No mapa abaixo, publicado hoje no jornal Folha de São Paulo, é possível ter a dimensão dos protestos de hoje e onde eles aconteceram no Brasil e no mundo. Essa foi a maior manifestação da história republicana brasileira. Não é para menos. Vivemos uma das piores crises de confiança da história.
Para que vocês tenham uma ideia, quando Collor sofreu o impeachment, no início da década de 90, ele ainda tinha 15% de aprovação. Na semana passada, foi divulgada uma pesquisa onde a presidenta apresentava o menor índice de aprovação da história: apenas 7%. Isso significa que, apesar de ter sido eleita por 55 milhões de pessoas, muitas delas mudaram de ideia e se arrependeram de seu voto, provavelmente pelo não cumprimento das promessas feitas durante a turbulenta campanha que logo nos dois primeiros meses do novo mandato se transformaram em atitudes opostas ao que foi prometido. Isso decepcionou uma grande parte de seus eleitores, o que explica a baixíssima taxa de 7% de aprovação apurada.
Como já disse em alguns comentários, não sou a favor do impeachment de forma aleatória, somente porque eu quero ou porque está todo mundo querendo. Afastar a presidenta somente é possível pelas vias legais, caso realmente seja comprovado algum crime cometido por ela, seja por dolo ou culpa, exatamente como prevê a Constituição.
Fique muito clara uma coisa para os políticos: respeitem a população. Chamar de golpe essa iniciativa pacífica feita por pessoas que promoveram a maior manifestação popular da história do país é um grande insulto.
Políticos, ouçam, sejam humildes e compreendam de uma vez por todas. Vocês são empregados da nação e essas pessoas nas ruas pagam seus salários. Vocês são servidores públicos cuja missão é servir essas pessoas. Seus erros estão custando caro para todos que saíram de casa hoje para protestar. Essas pessoas têm todo o direito de estarem insatisfeitas e de pedirem mudanças. Elas têm direito até de dizer “Fora, Dilma” ou fora quem quer que seja, como muitas vezes foi dito “Fora, FHC”. Cabe somente ao Congresso decidir sobre o assunto e pelas vias democráticas.
Passamos pelo Mensalão, Petrolão e inúmeras CPIs. Não vi ninguém vindo a público para pedir desculpas. Nenhum partido tem a dignidade de se apresentar dessa forma. Sabe por quê?
Falta de respeito.
Vale lembrar que cada família que saiu de casa, jovens, velhos e crianças, eles não são necessariamente ligados a partidos políticos e não receberam dinheiro para comparecerem ao protesto de hoje.
O que posso prever é que, a depender da resposta do governo nos próximos dias, caso ele admita suas falhas e peça desculpas pelo descontrole e corrupção, o povo ainda poderá se unir. Caso o discurso continue sendo de insultar a população, dizendo que sua manifestação é um golpe, vejo que a tendência é que este, que foi o maior protesto, acabe se tornando o menor de uma série de outros que virão daqui para a frente.
Empreendedores, em seu planejamento estratégico, considerem dias turbulentos pela frente.