Tenho dois filhos adolescentes e me impressiona como é importante para eles o ato de mostrar que têm opinião própria. No dia em que amadurecem, espero por este dia, chegam à conclusão de que o importante mesmo é ter opinião própria e não viver a obsessão de mostrar isso para serem aceitos.
Durante quatro anos seguidos, entre os anos de 1992 e 1995, eu me dediquei a fazer recrutamento, treinamento e formação de novos trainees. Passaram em meus processos seletivos dezenas de milhares de jovens em várias cidades do Brasil. Tive a oportunidade de treinar pelo menos 3.500 novos trainees, dos quais alguns chegaram a cargos executivos.
Nessa experiência, pude observar que nem sempre os que me impressionavam de primeira pela inteligência e articulação em sua comunicação eram os que chegavam mais longe. O que posso afirmar é que 100% dos que passavam pelo processo com sucesso eram os que adotavam uma postura de aluno e adotavam uma postura inteligente, valorizando o know-how dos gerentes que conduziam o processo de formação. Sabichões, arrogantes, presunçosos e os que sempre queriam mostrar que tinham opinião própria ficavam pelo caminho criando teorias para justificar seu fracasso, tentando desqualificar o processo e geralmente arrastavam os mais fracos com eles. No fundo, eles nos ajudavam muito no processo seletivo natural em busca dos melhores perfis, dos que de fato tinham opinião própria.
Portanto, que fique muito claro: humildade não é sinônimo de pobreza. Humildade é uma postura livre de complexos, carências, alegorias fúteis, temperadas com uma forte necessidade de autoafirmação. Humildade é estar livre para aprender, é ter sua inteligência livre, sem interferências de todo esse lixo emocional que tem sido colecionado por muitos jovens que estenderam sua adolescência – alguns deles, até os seus 50 anos de idade – e que, por isso, ainda se preocupam em mostrar que têm opinião própria para se sentirem especiais ou melhores do que os outros.
O mais interessante é que o tempo passa e o que se planta é o que se colhe. Com isso, os resultados, que não são uma casualidade, deixam claro quem é quem nessa história e, no caso dos processos seletivos que eu realizava, os espertos sempre fracassavam, enquanto os “otários” e sem “senso crítico” eram os que alcançavam o sucesso. Como já disse aqui uma vez, amo ser otário.