Para formar uma equipe de trabalho produtiva e comprometida não basta contratrar e pagar. Se apenas isso fosse o suficiente, seria moleza construir uma equipe de alto padrão. A gestão de pessoas em diversos níveis dentro de uma companhia representa um dos maiores desafios de gestores que frequentemente têm muita dificuldade em colocar em prática o que é planejado em suas planilhas.
Gestão de pessoas é o X da questão. A performance de uma equipe vai depender, até certo ponto, da forma como ela é liderada. Bons currículos e pessoas tecnicamente preparadas, infelizmente, não bastam para que um grupo de pessoas se torne, de fato, uma equipe.
Afinal, o que é necessário?
Vamos sair um pouco do ambiente corporativo para exemplificarmos melhor. Quando Bernardinho, técnico multicampeão de vôlei, recruta os melhores atletas brasileiros para formarem o time que representará o país numa competição, grande parte de seu trabalho é focado na gestão das competências emocionais desses atletas. Ele não tem a pretensão de ensiná-los a jogar o esporte no qual já são profissionais. Observe o Bernardinho na beira do campo e veja como ele trabalha o foco e o equilíbrio do time. Será uma coincidência que ele seja um multicampeão? Óbvio que não.
Os aspectos emocionais na gestão de pessoas dentro do ambiente corporativo também são cruciais para os seus resultados. Isso fará a diferença na performance de vendas, na maneira como seus gestores respondem à pressão do mercado e como seus criativos são mais ou menos ousados em suas tarefas, resultando em mais ou menos inovação.
Como vivemos em um mundo com paradigmas acadêmicos que passam longe das habilidades emocionais, os aspectos técnicos acabam sendo supervalorizados. Em decorrência disso, o que mais vemos nas empresas de todos os tamanhos são profissionais pouco resilientes, estressados, reféns de vários tipos de transtornos de ansiedade e com baixa performance.
Por isso, deixo no ar a seguinte pergunta:
Onde terminam as teorias de gestão de pessoas praticadas por grandes empresas e onde começa a autoajuda barata?
Não confunda alhos com bugalhos. Dominar as ferramentas de gestão de pessoas, conhecendo bem suas contradições, ambições e expectativas de curto e longo prazos é o que fará a diferença para grandes resultados ou performances medíocres.
Por outro lado, palestrantes-animadores-de-plateias frequentam as empresas em suas reuniões, convenções e festas de fim de ano, trazendo, em muitos casos, seus discursos vazios e cheios de palavras de efeito. Em minhas empresas, eu nunca contratei esse tipo de animador. A gestão de pessoas nos meus negócios é algo que considero inalienável e intransferível.
Já na internet, os animadores ganham uma nova forma. Eles se apresentam em forma de frases bonitinhas que inundam nossa timeline todos os dias. O que não faltam são os gurus com poucas realizações, empreendedores que não saíram do business plan e marinheiros de primeira viagem dando conselhos pela rede.
Desde que iniciei o GV escrevo sobre isso, mas não adianta. Quem tem pouca profundidade vai sempre se atrair por comida rala e se contentar em ficar na superfície. Mas como estamos no livre mercado, sempre haverá clientes para todo tipo de produto. Porém, quem quer chegar mais longe não deve se contentar com pouco e deve buscar se aprofundar, estudar e, acima de tudo, praticar. É nessa hora que a maioria prefere ficar apenas na teoria e nas frases fofinhas.
Autoajuda barata é a comida preferida de quem não sai da inércia e tampouco coloca em prática seus projetos. Por outro lado, quem tem uma folha de pagamento de verdade, recheada de encargos para pagar no mês seguinte, vai se esbarrar com a necessidade real de produzir com sua equipe. O mundo real sempre exigirá o conhecimento para gerenciar seres humanos e extrair deles o seu melhor a fim de alcançar as metas corporativas e proporcionar a eles uma chance também real de crescimento.
A primeira vez que escrevi sobre isso foi há 6 anos. Depois disso, escrevi várias vezes. Hoje, mais do que nunca, esse conceito continua muito importante, em especial para sabermos diferenciar o joio do trigo (gestão de pessoas e autoajuda) e buscarmos os conhecimentos que de fato podem nos ajudar a vencermos os desafios do dia a dia que, diga-se de passagem, não são poucos.