Comemore cada etapa superada como se fosse uma importante batalha vencida, mas não a vitória final de sua guerra. Isso seria um erro grotesco e muito comum.
Passou no vestibular? Por favor, não trate isso com se fosse uma grande coisa, o fim de sua guerra ou a maior conquista de sua vida. Pelo amor de Deus, passar no vestibular significa apenas uma coisa: que você passou no vestibular. Nada mais.
As festas, as faixas penduradas nas janelas, o estardalhaço com as caras pintadas, choros descontrolados, os trotes abusivos, os carros presenteados e tudo que gira em torno desse mercado da celebração banalizada (que infelizmente já é parte da cultura de parte da população), tudo isso é muito desproporcional. Ou seja, é muita festa para pouca conquista.
Essa desproporcionalidade deforma a mentalidade do jovem, alterando sua referência do que de fato é sucesso. Seria como dar um troféu para quem escova os dentes todos os dias. Essa incoerência o induz a acreditar que sua missão já está cumprida e que agora ele habita num patamar de sucesso que é privilégio apenas de uma elite intelectual. Muitos se convencem disso e levam anos para descobrir a realidade.
Não é por acaso que muitos passam os quatro anos comemorando até serem despejados no mercado de trabalho, onde a realidade os aguarda sem piedade. Ali, a meritocracia não é patrocinada pelo papai e pela mamãe e nem é conquistada com um pequeno esforço, o que é geralmente exigido para tirar a nota mínima para ser aprovado, enquanto se tem uma agenda de festinhas de quinta a domingo e presença garantida nos barzinhos ao redor da faculdade.
Dar valor ao que não tem valor e não valorizar o que de fato precisa ser valorizado é um equívoco que amontoa uma grande multidão na mediocridade do senso comum. Mas os que querem chegar mais longe têm referenciais maiores, valorizam o que poucos dão valor e, por isso, quando passam no vestibular, sabem que ainda precisam provar muito e que a “brincadeira” ainda nem começou.