Há quatro anos tenho dito isso aqui na página. Nesse período, temos visto cerca de 18 milhões de jovens brasileiros que sonham e se preparam para prestar concursos públicos, a fim de conquistarem seus lugares ao sol. Não tenho nada contra alguém ser empregado do governo e, inclusive, considero que o Brasil precisa ter um quadro qualificado de funcionários públicos para melhor servir a população, que ainda sofre com a qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado.
A principal razão apontada pelos que sonham com trabalhar para o governo é quase que unânime: estabilidade. Ou seja, o suposto direito a jamais ser mandado embora, jamais ser demitido, ter a segurança de receber um salário no final do mês sem o risco de ter contratempos ao longo da vida.
Isso mesmo. Entre o risco de empreender (em troca de conquistar projetos de maior realização) e a segurança do serviço público (ainda que com ganhos limitados), uma legião de jovens sonhou com uma vaga em alguma repartição pública para planejar sua vida. Essa moda arrastou muitos dos bons alunos, bons de prova e dispostos a estudarem centenas de horas por mês por vários anos de preparação para deixarem o setor produtivo do mercado, ou seja, o setor que gera receita em forma de impostos, para o setor público, ou seja, o setor que gera despesas. Não precisa ser nenhum gênio para enxergar que um dia não haveria dinheiro para pagar a conta.
É exatamente por conta dessa filosofia que se alastrou como um vírus no Brasil da última década que sempre escrevi aqui na página, em alto e bom som, que estabilidade não existe. Para isso, dei o exemplo da Grécia, que, devido a uma forte crise econômica, demitiu mais de 100 mil funcionários públicos recentemente. Além disso, disse também que abrir mão de um sonho para ter uma suposta segurança é desperdiçar talento, liberdade e que, a longo prazo, gera muita frustração.
O exemplo que mais usei foi: “Imagine se Bill Gates, Steve Jobs e Zuckerberg, com medo de arriscarem, fizessem concursos públicos… Cada um deles e todo o restante do planeta teriam grandes perdas”.
O mundo que conhecemos hoje foi construído por homens e mulheres que não se conformaram com as coisas como elas são. Eles são questionadores, muitas vezes chamados de loucos e desajustados. Pessoas com coragem de assumir riscos para mudar o mundo ou, no mínimo, o próprio mundo e o de quem as cerca.
Nossa ousadia e o desejo de liberdade para conquistarmos nossos projetos devem ser mais fortes que nossos medos. A razão é simples: não há nada seguro na vida. Todos morreremos, cedo ou tarde. Ninguém vai escapar. Portanto, viver tomado pelo medo e a covardia que nos faz abrir mão de grandes conquistas em troca de algo supostamente seguro é um grande desperdício e a razão de muitas frustrações.
Por que supostamente? Simples: estabilidade não existe.
Nesta semana, em Brasília, por exemplo, pela LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), o orçamento da folha de servidores públicos ultrapassou o percentual previsto na Constituição. Resultado? O mais provável é que funcionários concursados sejam dispensados. A outra hipótese seria o aumento dos impostos, o que precisaria da aprovação da Câmara, hipótese muito remota, já que os níveis de impostos para a sociedade já são considerados altos. Ou seja, a tendência é a demissão, o que tem gerado uma pressão de sindicatos da categoria.
Segundo Paulo Blair, doutor em Direito Constitucional pela Universidade de Brasília (UnB), a demissão de funcionários de carreira de fato está prevista no artigo 169 da Constituição Federal. A medida pode ocorrer quando o Executivo receber um alerta por estar no limite prudencial da LRF e não conseguir sair da situação no prazo estabelecido pelo órgão de controle, Declaração dada ao jornal Correio Brasiliense.
Não fico nada feliz com a notícia e lamento muito por aqueles que acreditaram no conto da estabilidade e, por isso, dedicaram suas vidas apostando suas fichas nisso. No entanto, aproveito para mais uma vez alertar a todos da página a fim de gerar uma reflexão: estabilidade não existe!
No universo, tudo muda, nada é permanente, a entropia é implacável e o risco é parte da vida desde que nascemos até o nosso último suspiro.
Por isso, mais uma vez deixo a todos uma mensagem: Se o risco é inevitável, relaxe e empreenda.
Seja dono do seu destino, aprenda a não depender de ninguém, muito menos do governo. Sonhe grande e tire seus planos do papel.
Viver dentro de uma gaiola pode parecer mais seguro, enquanto voar como um pássaro livre pode parecer muito perigoso. Porém, perigoso mesmo é ser devorado por um predador dentro de sua própria gaiola, sem poder se defender, depois de ter passado uma vida acreditando que lá dentro você estaria protegido.
Afinal, um dia todos morreremos. A diferença é que alguns, por medo e covardia, de fato nunca terão vivido.